quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Jogo é festa

Muito bem. O que são jogos digitais? Comendo pelas bordas o que agora me parece um angu de caroço para responder, vou raspar minha colher em jogos e o princípio do princípio: o que é um jogo afinal? Xereta aqui e acolá e volta e meia a mesma referência: Homo Ludens de Johan Huizinga, livro publicado originalmente em 1938. Hm... Seria uma obra do tipo "tem que ler"? Pensei cá com meus botões. Comprei o livro e ainda não terminei, mas já adianto daquilo em que avancei: é bom pra dedéu!

Tenho certeza de que voltarei a ele em outras postagens, mas, por hora, ficarei com esse trecho: "Existem entre a festa e o jogo, naturalmente, as mais estreitas relações. Ambos implicam uma eliminação da vida cotidiana. Em ambos predominam a alegria, embora não necessariamente, pois também a festa pode ser séria. Ambos são limitados no tempo e no espaço. Em ambos encontramos uma combinação de regras estritas com a mais autêntica liberdade. Em resumo, a festa e o jogo têm em comuns suas características principais."

Destrinchando um pouco o que nessas linhas foi condensado de maneira tão estonteante:

eliminação da vida cotidiana Um jogo é uma atividade que não faz parte do dia-a-dia comum, ou seja, há um momento de jogo e há um momento de não-jogo. Embora a delimitação entre esses dois momentos possa ser a mais aguda como o apito de um árbitro ou a mais sutil como um simples inclinar de cabeça, os envolvidos sabem quando um jogo está acontecendo e quando ele não está acontecendo. O "círculo mágico" do jogo é inquestionável.

alegria Leia-se aqui o seguinte: um jogo proporciona diversão. Ele pode não ser uma unanimidade, mas nem que seja para um único participante, um jogo precisa oferecer a este contentamento com a atividade. Um jogo pode ser sério ou levado a sério demais por alguns, mas mesmo então, a promessa de diversão está presente.

limitados no tempo e no espaço Os tempos e os espaços de um jogo variam de acordo com seu tipo. Um jogo pode ter tempos pré-determinados ou tempos que são determinados pelo atingimento do objetivo primordial que é vencer o jogo. Um jogo pode acontecer em espaços físicos grandes como campos de futebol ou pequenos como tabuleiros de xadrez, bem como digitais maiores e menores até do que os exemplos já dados. Seja qual for esse tempo e esse espaço, porém, um jogo, para se manter como um jogo, deverá respeitar a ambos.

uma combinação de regras estritas Um jogo tem regras. As regras, na verdade, fazem um jogo. Elas podem ser negociadas e renegociadas no momento do não-jogo, fora de seu espaço e de seu tempo, mas, uma vez postas em prática, ou seja, uma vez que o momento do jogo começa, elas não podem ser quebradas em seu tempo e em seu espaço sob pena de se destruir o próprio jogo.

a mais autêntica liberdade Jogar é uma atividade espontânea. Atenuantes e agravantes dessa afirmação podem pipocar de todos os lados e historicamente há alguns exemplos de jogos, mais para pseudo-jogos, bastante infelizes, mas, na raíz, esta é uma afirmação poderosa por si só: as pessoas jogam porque querem jogar. Iniciar um jogo é escolher se submeter a regras, mas é também escolher se divertir, concretizar a promessa, mesmo que em um tempo e um espaço limitado, de algo que alegre a vida.

E é isso (risos). Para aqueles que tiveram paciência de ler até o fim, resumindo: um jogo é uma atividade espontânea, com regras a serem seguidas, em um tempo e espaço próprios, que proporcionam diversão e que transportam o jogador para além da realidade do dia-a-dia. E também, no frigir dos ovos, escrevi muito e ainda estou com aquela sensação de que não escrevi nem a metade. Mas fica para a próxima. Para não cansar. Inté e log out.

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