terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nova caixa, novos jogos

Nasci em 1977. No dia 5 de fevereiro. Não sei se tinha essa coisa de horário de verão na época e se era época de horário de verão, portanto, até que se descubra algo em contrário, sou Aquário com ascendente em Touro. E por muito que me interesse sobre o tema, isso é tudo que sei do meu mapa astrológico. Pois é, mas além de aérea e terrena, sou também digital. Pelo menos é o que um autor canadense chamado Don Tapscott escreveu em livro lançado em 1996: que todas as pessoas do mundo nascidas entre 1977 e 1996 pertencem ao que ele designou como Geração Net.

Entrei, como vocês podem perceber, raspando nesse bolo. Às vezes chego mesmo a me perguntar se mereço pertencer a esse grupo. Tem tanta coisa que não sei e tanta coisa que sei que outros que nasceram antes disso sabem mais do que eu sobre a tal da internet e os computadores que, a grosso modo, a suportam, que chego a ficar deprimida. Não vou também por amor-próprio lembrar aqui daquelas que nasceram depois desses anos limites e podem me fazer passar um "carão" fácil, fácil.

Vejo as crianças da nova geração da minha família, crianças que mal aprenderam a falar e já mexem no computador para jogar e desenhar e adoram andar para cima e para baixo com seus celulares (ainda de brinquedo), e não posso deixar de me perguntar: se eu, mesmo considerando o estranhamento e retardamento da minha relação com as tecnologias que um especialista disse seu domínio "natural" me definem como grupo, sou parte da Geração Net, eles serão a geração o quê? Ainda não encontrei uma resposta, apenas assombro. Mas estou divagando. Não. Estou fazendo um preâmbulo.

Tudo isso para dizer que apesar de ser da Geração Net, como muitos de nós, eu não nasci com a internet como a maioria a conhece hoje em dia propriamente. A bem da verdade eu nem mesmo me interessei muito por essa novidade quando ela começou a ficar popular também no lado de baixo do Equador. Isso porque eu não gostava de computador. Como assim não gostava? Bom, para falar a verdade, eu era ignorante mesmo. Não conhecia e por isso temia e, temendo, era confrontada com minha covardia e, como meu orgulho e minha vaidade gostam de me saber corajosa, eu simplesmente dizia que não gostava de computador, porque era mais fácil tratar a coisa como uma questão de gosto do que como uma de desgosto.

Minha história com o computador mudou por causa do Amor. Por causa do Amor, bem piegas mesmo, porque foi por causa do meu eterno namorado, o Joca, que eu me apaixonei por essa caixa que ainda é mágica para mim no insondável de seu emaranhado de circuitos que se ajeitam e se escondem atrás da estrutura de plástico e metal mais aparente que me dá tanto prazer quando pisca para mim. Não seus olhos, mas suas luzinhas de inicialização que servem do mesmo jeito para fazer palpitar meu coração e suspirar minha imaginação com a promessa de mais uma sessão de jogo. Até então, eu só conhecia caixas de jogo de tabuleiro.

Sim, porque o que me leva a ser "louca" por meu computador são, na verdade, os jogos que posso jogar com ele. Meu companheiro foi muito esperto. Quando percebeu que eu tinha um bocadinho de ciúmes do computador dele, que ele usava tanto para trabalhar quanto para se divertir em "chatíssimas" batalhas espaciais e corridas, tratou de me fazer ver que naquela caixa podia haver muito mais do que naves perdidas e carros batidos. Descobri, assim, por intermédio dele, que existiam jogos mais do meu gosto e que para ganhar esses jogos eu precisava vencer meu desconforto com o tal do computador.

Bem, não se costuma jogar para perder. Não foi diferente dessa vez. Mas, ao terminar de fruir a primeira partida, eu me rendi. Alegremente, pois perdi no fim das contas meu medo de "computador". Sou grata ao Joca por muitas coisas, mas esta é uma das mais especiais: ele me ajudou a me encontrar dentro da minha geração. Ao me apresentar os jogos de computador, ele me levou ao computador e o computador me levou então para a internet. Mesmo apesar de ele dizer, com bom humor, que acha que acabou criando um "monstro".

Esse "monstro" ainda é novo. Tem apenas cerca de dez anos e, por isso, também ainda tem muito o que aprender, mas ele é valente, beirando o temerário, em sua avidez por jogar. Que ele possa emprestar muito de seu espírito de experimentação e descoberta para mim como autora ao entrar cada nova área desse blog, minha modesta tentativa de criar um espaço de jogo próprio.

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